31 julho, 2006

Motor, funilaria e pintura.
Foram dias produtivos por aqui, considerando que estou de volta há pouco tempo.
A semana passada, eu reservei para uma dar uma geral em mim e fazer jus aos milhares de reais gastos em plano de saúde, sem utilizar o serviço durante 3 anos. Decidi que era hora de pegar abuso.
Além de dar uma tremenda sorte nas escolhas aleatórias dos profissionais, eu me diverti um bocado.

O dr. Superbacana.
Eu sou obrigada a confessar que sempre fico meio nervosa em consultas médicas em geral. Isso é muito perigoso, porque as chances de eu falar merda nessas circunstâncias costumam triplicar. E assim foi.
Primeira consulta com doutor desconhecido e sem referências. Sujeito simpático e brincalhão.
- Nome?
- Ana.
- Data de nascimento?
- Tal, de tal, de tal.
- Temos a mesma idade, mas eu sou mais velho, por isso respeite meus cabelos brancos.
- Até aí, eu também tenho alguns, só que eu disfarço melhor.
- Mas eu sou mais velho.
- Sim, o sr. é mais velho.
- CEP
- Zero, xis, xis.
- Tá dando erro. Diga o endereço.
- Rua tal, número.... x. Não, não, número y. É isso, número y.
- Celular?
- Péra aí, tenho que conferir.
- ...
- Você deve estar achando que eu sou uma pessoa meio desorientada.
- Estou.
- Não sou. Cheguei de viagem há 4 dias, estou hospedada na casa da minha mãe e acabei de comprar uma linha nova pro celular. Ainda não decorei tudo.
- Sei.
- Profissão?
- Publicitária.
- Estado Civil?
- Divorciada.
- Por que toda publicitária é divorciada?
- Nem todas.
- Todas que eu conheço são.
Achei melhor não contrariar.
- Tá namorando?
- No momento, não.
- Por que não?
- História delicada, tem meia hora?
Ele prosseguiu com a anamnese e depois, fui para a mesa de exame.
- Eu tive uma namorada que era publicitária. Outro dia, eu a encontrei no Orkut.
- Xii - pensei.
- Depois eu achei melhor sair do Orkut, porque tava me causando problema.
- Orkut é o tipo de coisa que, mais cedo ou mais tarde, acaba dando problema. Ela era o quê?
- Publicitária e designer nas horas vagas.
- Diretora de arte?
- Atendimento. Nunca entendi direito o que faz um Atendimento.
- Não posso culpá-lo por isso. Nem quem é da área entende.
De volta à sala de consulta.
- Quando foi sua última mamo?
- Maio de 2003. Lembro que tava tudo beleza.
- Tem idéia de onde possa estar guardado o resultado?
- Claro que não.
- Tenta no móvel da TV. Tudo que a gente procura e não sabe onde tá, tá no móvel da TV.
- Sem chance. Lá eu tenho certeza que não tá.
- Então procura numa gaveta onde você guarda extratos e comprovantes de Imposto de Renda.
- Aí já pode ser.
- Leve o exame no dia. O resultado fica mais preciso quando comparado com o anterior.
- Entendi.
- Marque retorno pra daqui a 15 dias e, quando voltar, quero ouvir você me contar que tá namorando.
- Sim, claro. Ao terminar a leitura deste livro aqui, todos os homens estarão aos meus pés.
- Não acredito que você tá lendo isso.
- Sim, já tô na pág. 12! :)
- Ana?
- Tô te falando. É muito comédia.
- Você leva isso a sério?
- Claro que não! Dãrr!
- Assustei.
- Tenho um outro muito pior. Vou trazer na próxima consulta. Um verdadeiro caça-níquel. Impressionante.
- Quero ver. E quero que você faça uma pesquisa de campo, de cunho científico. Quero saber porque os publicitários vivem se separando. Pergunte aos seus colegas e me traga os dados.
- Eu tenho uma tese sobre isso.
- Qual?
- Todo (a) publicitário (a) é, por definição, um (a) mala. Quando não tá pensando em trabalho, tá sempre muito ocupado, admirando o esplendor do próprio umbigo. Eu me conheço. Tento me desculpar, mas o mundo não entende.
- Você vai parar de fumar.
- Uma coisa de cada vez, doutor.
- Se eu parei, você também consegue.
- Parou como?
- Parando.
- Nem vem. Chicletinho de nicotina? Adesivinho? Aposto.
- Nada. Parei e pronto.
- Hum.
- Teve uma época que eu voltei. Tava em crise. Voltei, mas foi por pouco tempo.
- Sabiiia!
- Mas depois, parei. Então, faça a mamo, pare de fumar, arrume um namorado e volte em 15 dias.
Muito figura, esse doutor.
Marquei a mamo. Achei o resultado da anterior. Tava na prateleira dos extratos antigos e variedades inclassificáveis. Como ele adivinhou?
Ainda não parei de fumar, mas mudei de marca, o que já posso considerar um grande avanço: o novo Free Flex. Que poderia perfeitamente chamar Free for Kids. Flex me dá impressão de que pode ser a álcool ou a gasolina.
Preciso fazer minhas lições de casa. Meu prazo já tá estourando. Mas, calma.
Uma coisa de cada vez.



O doutor Blasé.
No dia seguinte, fui ao oftalmo.
Minha situação era preocupante. Não estava enxergando um palmo diante do nariz. Literalmente.
Marquei consulta com um Professor Doutor, numa dessas torres esquema Medical Center, que estão super-na-moda.
Consultório cheio. Atrasou pra caramba.
Chegou minha hora. O cara até que era simpático, mas bastante polido.
Coisa de Professor Doutor, entende?
Eu estava apreensiva.
Contei minha história triste. Sentei naquela cadeira esquisita.
Doutor Blasé, indiferente ao meu ar de estranheza, pingou umas gotas cruéis nos meus olhos.
Apenas por curiosidade, pensei em perguntar se aquilo seria a versão líquida de spray de pimenta.
Ardeu pra burro.
- Doutor, arde assim mesmo?
- Sim, mas vai passar logo.
- Doutor, eu tô sozinha. O sr. tem certeza de que vou poder sair daqui dirigindo?
- Vai. Esse incômodo já vai passar.
INCÔMODO? COMO ASSIM? TENHO CACOS DE VIDRO NOS OLHOS!
Então, começou a pior parte.
- O que você consegue ler ali?
- Um borrão.
- E agora?
- Piorou.
- Melhorou?
- Médio.
- Agora?
- Err.. O sr. tá me confundindo.
E assim foi.
Sentei-me à espera do veredito.
- Fundão de garrafa, doutor?
- Como?
- Tô muito cega?
- Não, pra longe, coisa mínima. Pra perto, o normal pra idade.
Precisava jogar isso, assim, na minha cara?
Saí do consultório com a sentença anotada num receituário cheio de onda, quase elegante, e fui direto escolher os óculos.
Quase perdi a cabeça por um Guess! muito fofo, que ficou horas piscando pra mim.
Resolvi deixar a decisão pro dia seguinte. Pensei com frieza. Ele era lindo, mas uma extravagância irresponsável. Optei por um simpático e modesto Giorno, mais de acordo com as minhas posses.
Agora tô enxergando tudo. Uma maravilha. Consigo ler bula, texto legal, o diabo. Só não consigo ler o que está escrito na haste interna do Giorno. Mas deve estar em corpo 4.

O doutor Prodígio.
Eu queria também um dermato. Lembrei que a Oli tem um muito legal, mas ela tava viajando e não tinha como conseguir o telefone do cara.
Decidi continuar consultando o Oráculo, também conhecido como Manual de Orientação ao Usuário. Marquei, como de costume, aleatoriamente.
Consultório bacana, doutor novinho. Se tiver mais que 32 anos é exagero.
Eu tinha uma queixa que estava realmente me preocupando.
O rapaz matou de primeira, sem deixar sombra de dúvida: - Essa pinta na nuca é benigna, mas se quiser, eu tiro agora. Quer?
- Precisa?
- Não. Mas posso arrancar isso em dois minutos. Quer?
- Melhor deixar quieto. Até que ela é bonitinha. O cabelo cobre. :)


O dr. Comédia.
Otorrino. Doutor já na casa dos 60.
Dados pessoais. Nome, endereço, data de nascimento.
- Estado civil?
- Divorciada.
- Quantas vezes?
- Como?
- Vocês, dessa geração, costumam se divorciar a cada dois meses.
Não! De novo esse assunto, não!
- Oficialmente, uma vez só, doutor.
- Uma só? Que coisa antiga.
Hunf!
- Qual o seu problema?
Contei minha história triste.
- E esse zumbido, você percebe há quanto tempo?
- Há um tempão. Tanto que já até virou sonoplastia.
- Se é assim, então faz de conta que ele não existe.
WHAT???
Mais 10 minutos de conversa divertida jogada fora, depois do exame clínico, saí do consultório com uma pomadinha pra alergia e um pedido de audiometria.
Com a recomendação expressa: - Não tem pressa e marca retorno quando quiser, viu? Agora, me diga: qual é mesmo a música que fala de Jaçanã?
- Trem das 11, doutor. Adoniran, lembrou?
- Ah! Claro! A do filho único.
Ô, mô pai!

25 julho, 2006

O mico final.
Desembarcar em Cumbica me deu uma certa emoção e um inegável gostinho de vitória. Parei pra tomar um café, antes de seguir o caminho de casa.
Pela primeira vez, olhei pra caixa com mais atenção. Só então notei:
Sempre Livre - Noturno - Com abas.
Putz.
Nem tudo foi só desgraça.
Naquela correria doida de última hora, lembrei que as regras do envio de caixas como excesso de bagagem são diferentes das do envio pelo correio. O problema é que eu não lembrava dos detalhes. Aqueles que podem fazer a diferença entre você embarcar ou não.
Liguei pra Bel, a criatura iluminada pelo Divino, que sempre me socorreu nesses apuros. A santa não só me orientou, como também avisou que eu poderia fazer o check-in na loja Opção do aeroporto, sem precisar ficar na fila dos pobres mortais. O tipo de mordomia que eu estava merecendo. Pareceu que os caminhos estavam se abrindo.
Ao chegar no Edu Gomes, um carregador me ajudou com o carrinho e a mocinha da loja me apresentou a um senhor com nome engraçado.
Vamos chamá-lo de Padilha.
Pois o Padilha seguiu pelo portão da Gol para providenciar o despacho da bagagem, enquanto eu me acomodava confortavelmente no sofá para assistir aos momentos decisivos d´A Viagem.
Passaram-se mais de 20 minutos e nada do Padilha.
Segundo intervalo da novela e todo mundo na loja perguntando onde estaria o Padilha.
-Xi, sujou, pensei.
Comecei a pensar coisas estranhas. Tá certo que eu tinha uma certa culpa no cartório.
Estava tudo na conformidade da lei, veja bem. O som tava com nota fiscal e manual na valise vermelha. A camêra fotográfica é antigona e o Palm, de mil novecentos e tracajá. A única coisa que poderia pegar era que o DVD player tava sem nota fiscal, por isso eu o mimetizei entre algumas peças de roupa, no fundo do mochilão.
Fiquei imaginando o Padilha, um honrado pai de família, cercado por agentes federais e cães farejadores.
Alguns minutos depois, ele surge com ar cansado, dizendo que a mocinha do check-in queria alguns esclarecimentos a respeito da bagagem.
- Putz, sujou mesmo, pensei.
Meio trêmula, eu me aproximei do balcão. Para minha grata surpresa, a moça queria saber o que tinha na caixa.
- Barbitúricos, minha filha. Remédio controlado e tudo sem receita - deu vontade de dizer.
Francamente, isso é pergunta que se faça?
Contei que tinha uma bolsa linda de morrer, uma sandália que eu adoro, alguns bichinhos de pelúcia e umas miudezinhas de última hora.
Passou.
Enquanto ela me fincava a faca sem piedade, uma moça de voz atormentada gritava no alto-falante que a aeronave do vôo 646 já se encontrava em solo.
Ou seja, sem tempo nem pro café nem pro cigarro.
Deu apenas para comprar um pãozinho de queijo, quando a moça de voz atormentada começou a gritar de novo, convidando os passageiros do vôo 646, com destino a Cumbica, para o embarque imediato.
Engoli o pãozinho e o choro a seco.
Agora, sim. Tchau, Manaus.
Valeu. E desculpa alguma coisa.

23 julho, 2006

Hora de pedir socorro.
Exausta de carregar tudo sozinha nas costas, liguei pra portaria e implorei que alguem viesse me ajudar com a bagagem. Era o mochilao, a mala azul, a valise vermelha, uma caixa, aquela que ficou sobrando, com miudezas que não couberam em lugar nenhum, a já famosa sacola verde de bolotas, mais a kipling azul, que largou definitivamente a academia e voltou a ser bagagem de mao.
Sem condiçoes.
Chamei um taxi e o porteiro gentil levou tudo pra mim ate o terreo.
Fechei o apartamento cor-de-rosa com um certo aperto no coraçao.
Vou sentir falta daquela varanda.
Enquanto meus ajudantes ajeitavam tudo no carro, fiquei olhando pra recepçao do predio e me lembrando das visitas queridas e amadas de Sampa que recebi em casa.
Subi no carro meio anestesiada pela dor e pela exaustao.
Ao passar pelo Samambaias, esbocei um sorriso. Em seguida, veio o Carrefour de Flores. Inevitavel não lembrar da Liginha com saudades.
Fui observando as barracas de frutas da Torquato. Bons momentos por ali.
Quando dei por mim, tava no Eduardo Gomes.
Tchau, Manaus.
Aperta que cabe.
A noite que antecedeu minha partida tambem foi completamente insone. Eu estava tao dolorida, que tinha medo de adormecer e acordar com a musculatura travada. Optei pela vigilia, embora não conseguisse fazer nada durante a madrugada a não ser pensar, pensar, pensar.
A terça -feira da partida chegou. A tarefa era arrumar as roupas limpas no mochilao e as roupas usadas e os poucos sapatos que restaram na maldita mala azul.
Coisa simples.
Foi quando me vi engolida por uma arapuca: um armario de 6 portas e 6 gavetas. Ali havia roupas que eu nem lembrava mais que existiam. E eram muitas. Começou a corrida contra o tempo. O mochilao era grande, daqueles estilo coraçao de mae. Mas não era dois. Foi o meu segundo erro: subestimar o inimigo.
Desci ate o terreo e pedi sacos de lixo. Daqueles de 100 litros. Transtornada, avisei o zelador que iria desovar tudo na porta da lixeira. Ele falou de uma senhora conhecida que costuma passar la em busca de donativos. Foi o que me salvou. A ideia de que tudo aquilo seria doado foi um estimulo a me de desfazer de um monte de coisas que eu sabia que nunca iria usar. Num ato de puro desapego, foram doados 3 sacos de 100 litros, lotados ate a boca de roupas e sapatos. Apenas pedi para que fossem buscar em casa. Não tinha mais força pra nada.
Mas ainda tinha muita coisa dentro daquele armario, das quais eu não queria me desfazer de jeito nenhum. Dava impressao que brotavam das prateleiras. E o tempo passando.
Separei roupa, lingerie e sapato para a viagem e comecei a colocar o restante na mochila. E o espaço acabando. Desespero.
Deixei as prediletas por ultimo e percebi que não iriam caber. Não havia mais tempo de pegar um taxi para comprar outra mochila.
Lembrei-me da Heidi. As meninas devem se lembrar dela. Aquela menininha orfa, nomade, que não tinha mala, por isso vestia uma roupa em cima da outra. Lembram?
Eu tava decidida a lançar mao desse recurso caso não coubesse tudo. Tava mesmo.
Entao, fiz caber, com muito esforço, suor e, logico, muita oraçao para o ziper não arrebentar. Fechou.
Aliviada, comecei a me ajeitar para o banho. Foi quando descobri que tinha esquecido de separar uma blusa. Olhei pra mochila. Respirei fundo. Abri. As roupas, amotinadas, pularam todas pra fora. Peguei a primeira blusa que vi e reiniciei o trabalho de doma-las para dentro. Foi uma luta insana. Elas comportavam-se como aliens indomaveis. Novo esforço. Novas oraçoes. Consegui. Fechou. Mas não convem abusar da sorte novamente.
E o que seria o meu ultimo banho relaxante e prolongado no meu apartamento cor-de-rosa, acabou sendo apenas uma chuveirada rapida e sem glamour.
Ao me vestir, faltava outra peça: calcinha. Olhei novamente pra mochila. Exausta, conclui: quer saber? Fui.
O acerto final .
Pouco mais de 10h da manha, o corretor chegou para a vistoria do ap., no meio de toda aquela confusao.
Houve uma quebra contratual da minha parte, portanto eu teria que pagar o equivalente ao valor de um aluguel.
Fiz minha proposta: deixo a TV, o colchao novinho em folha, a cozinha equipada com pratos, talheres, panelas, topeuere, copos, taças, canecas e o diabo. Um imovel limpo e pronto para ser habitado amanha, se houver algum interessado.
Considerando meu comportamento impecavel como inquilina, eu me safei da multa.
Estou aprendendo a negociar. Fiquei orgulhosa de mim. :O)
Esqueletos no armario.
Na manha do dia 05/07 ficou decidido que minha jornada amazonica estava oficialmente encerrada.
A noite, teve inicio a grande maratona, que duraria exatos 12 dias.
Ao chegar da agencia, tomei consciencia do que me esperava. Uma casa inteira pra desmontar, num trabalho braçal e solitario de escolher o que vai e o que fica.
Foram 5 dias apenas para esvaziar o movel da sala, abarrotado de documentos importantes, papeis inuteis, fotos, lembranças queridas, historias e pequenos mimos que espalhados pelo chao e pela mesa.
Foi quando ficou escancarada a minha dificuldade de estabelecer um metodo de trabalho. Eu bem que tentei. Mas o pensamento recorrente era: não vai caber na valise vermelha, que sempre foi a transportadora oficial da papelada. Tive que repensar todos os esquemas ate entao utilizados com sucesso durante 3 anos.
Passemos entao para a cozinha. Com o coraçao partido em pedacinhos, decidi que não iria levar nada dali. Nem a bomboniere de tampa cor-de-rosa. Nem o pote de florzinhas com tampa amarela. Uma decisao dolorida, mas que me rendeu bons dividendos no final. Melhor doer no coraçao do que no bolso. No desespero, este passou a ser o criterio.
Voltemos a sala, já no sexto dia. O que fazer com o que vai?
Caixas. Isso. Vou precisar de muitas caixas. E o fantasma do excesso de bagagem pela Gol me assombrando: 0,5% da tarifa cheia cada quilo. Isso doi.
Um telefonema a minha mana Ligia e fez-se a luz: Correio. Encomenda normal. Bem mais barato: R$ 12,40 o quilo, com descontos progressivos. Adoro descontos progressivos.
Eu olhava para o armario do quarto e pensava: esse ta safo. Em meia hora resolvo isso.
Pedi caixas la no mercadinho da Rita. Não deu nem pro cheiro. Muito pequenas.
Comecei a entrar em agonia. Os livros. Eram muitos deles.
Lembrei da famigerada mala azul, que estava esquecida há mais de dois anos debaixo da cadeira do quarto. Era a minha chance de me livrar dela, não sem antes lhe dar uma funçao realmente edificante. Sem avaliar nada, dispensei as roupas que vieram de Belem e acomodei todos os livros. Um problema a menos. Note como as coisas vao tomando um certo contorno. Ta certo que ilusorio, mas ainda assim um contorno.
Pedi mais caixas pra Rita. So pra embalar a bagagem da sala, foram 4 de bom tamanho.
Mais uma caixa gigante para o enxoval. Outra para bolsas e sapatos. Sobrou uma.
Na segunda-feira passada, meu prazo estava estourando. E o saco tambem.
Não dormia há duas noites, tentando equacionar como eu iria levar tudo aquilo sozinha pro correio. Contratei o entregador do mercadinho pra me acompanhar ate o shopping, que, obvio, não apareceu na hora combinada. A exaustao começava a me dominar. Com a ajuda de um carrinho de supermercado, transportei todas as caixas e a mala de livros para o terreo. Temperatura local: 36 graus Celsius.
O porteiro e o taxista colocaram as coisas no carro. Ao chegar no shopping, um outro taxista conhecido veio nos ajudar a levar tudo ate o correio e pela primeira vez, em 11 dias, tive uma ajuda efetiva.
Ao chegar no correio, nova trapalhada: não se despacha mala por encomenda. So caixa. E la vou eu zanzar pelo shopping, mendicando caixas no Carrefour. Não tinha. Na livraria tambem não. So fui encontrar uma no deposito de lixo. A única limpinha que achei parecia um basset gigante. Passei os livros da mala para a caixa basset. Depois de pesada [18,4Kg] e lacrada, a funcionaria do correio descobriu que não poderia despachar: cubagem fora do padrao. La fui eu de novo. Achei uma alma caridosa numa loja de sapatos, que me cedeu uma caixa no tamanho adequado.
Quase duas horas depois, parte da minha bagagem tomou rumo de casa. Peso total: 53,8Kg. Pesava mais que eu.
Voltei pro ap. me sentindo um pouco mais leve e com a maldita mala azul debaixo do braço.
Disso tudo sobrou uma liçao: tenho que libertar a Dona Violeta que habita o meu ser. Nunca mais vou juntar tanta tralha na vida. Senti na pele o trabalho e a dor que isso traz.

06 julho, 2006


Calma nessa hora.
- Paciência de Jó com a Telemar
- Triar roupas e sapatos com critério
- Juntar os livros
- Providenciar caixas
- Comprar plástico bolha
- Embalar os tesouros
- Jogar papelada sem função no lixo
- Ficar apenas com o essencial
- Não carregar peso desnecessário
- A louça fica