25 julho, 2006

Nem tudo foi só desgraça.
Naquela correria doida de última hora, lembrei que as regras do envio de caixas como excesso de bagagem são diferentes das do envio pelo correio. O problema é que eu não lembrava dos detalhes. Aqueles que podem fazer a diferença entre você embarcar ou não.
Liguei pra Bel, a criatura iluminada pelo Divino, que sempre me socorreu nesses apuros. A santa não só me orientou, como também avisou que eu poderia fazer o check-in na loja Opção do aeroporto, sem precisar ficar na fila dos pobres mortais. O tipo de mordomia que eu estava merecendo. Pareceu que os caminhos estavam se abrindo.
Ao chegar no Edu Gomes, um carregador me ajudou com o carrinho e a mocinha da loja me apresentou a um senhor com nome engraçado.
Vamos chamá-lo de Padilha.
Pois o Padilha seguiu pelo portão da Gol para providenciar o despacho da bagagem, enquanto eu me acomodava confortavelmente no sofá para assistir aos momentos decisivos d´A Viagem.
Passaram-se mais de 20 minutos e nada do Padilha.
Segundo intervalo da novela e todo mundo na loja perguntando onde estaria o Padilha.
-Xi, sujou, pensei.
Comecei a pensar coisas estranhas. Tá certo que eu tinha uma certa culpa no cartório.
Estava tudo na conformidade da lei, veja bem. O som tava com nota fiscal e manual na valise vermelha. A camêra fotográfica é antigona e o Palm, de mil novecentos e tracajá. A única coisa que poderia pegar era que o DVD player tava sem nota fiscal, por isso eu o mimetizei entre algumas peças de roupa, no fundo do mochilão.
Fiquei imaginando o Padilha, um honrado pai de família, cercado por agentes federais e cães farejadores.
Alguns minutos depois, ele surge com ar cansado, dizendo que a mocinha do check-in queria alguns esclarecimentos a respeito da bagagem.
- Putz, sujou mesmo, pensei.
Meio trêmula, eu me aproximei do balcão. Para minha grata surpresa, a moça queria saber o que tinha na caixa.
- Barbitúricos, minha filha. Remédio controlado e tudo sem receita - deu vontade de dizer.
Francamente, isso é pergunta que se faça?
Contei que tinha uma bolsa linda de morrer, uma sandália que eu adoro, alguns bichinhos de pelúcia e umas miudezinhas de última hora.
Passou.
Enquanto ela me fincava a faca sem piedade, uma moça de voz atormentada gritava no alto-falante que a aeronave do vôo 646 já se encontrava em solo.
Ou seja, sem tempo nem pro café nem pro cigarro.
Deu apenas para comprar um pãozinho de queijo, quando a moça de voz atormentada começou a gritar de novo, convidando os passageiros do vôo 646, com destino a Cumbica, para o embarque imediato.
Engoli o pãozinho e o choro a seco.
Agora, sim. Tchau, Manaus.
Valeu. E desculpa alguma coisa.

Nenhum comentário: