23 julho, 2006

Esqueletos no armario.
Na manha do dia 05/07 ficou decidido que minha jornada amazonica estava oficialmente encerrada.
A noite, teve inicio a grande maratona, que duraria exatos 12 dias.
Ao chegar da agencia, tomei consciencia do que me esperava. Uma casa inteira pra desmontar, num trabalho braçal e solitario de escolher o que vai e o que fica.
Foram 5 dias apenas para esvaziar o movel da sala, abarrotado de documentos importantes, papeis inuteis, fotos, lembranças queridas, historias e pequenos mimos que espalhados pelo chao e pela mesa.
Foi quando ficou escancarada a minha dificuldade de estabelecer um metodo de trabalho. Eu bem que tentei. Mas o pensamento recorrente era: não vai caber na valise vermelha, que sempre foi a transportadora oficial da papelada. Tive que repensar todos os esquemas ate entao utilizados com sucesso durante 3 anos.
Passemos entao para a cozinha. Com o coraçao partido em pedacinhos, decidi que não iria levar nada dali. Nem a bomboniere de tampa cor-de-rosa. Nem o pote de florzinhas com tampa amarela. Uma decisao dolorida, mas que me rendeu bons dividendos no final. Melhor doer no coraçao do que no bolso. No desespero, este passou a ser o criterio.
Voltemos a sala, já no sexto dia. O que fazer com o que vai?
Caixas. Isso. Vou precisar de muitas caixas. E o fantasma do excesso de bagagem pela Gol me assombrando: 0,5% da tarifa cheia cada quilo. Isso doi.
Um telefonema a minha mana Ligia e fez-se a luz: Correio. Encomenda normal. Bem mais barato: R$ 12,40 o quilo, com descontos progressivos. Adoro descontos progressivos.
Eu olhava para o armario do quarto e pensava: esse ta safo. Em meia hora resolvo isso.
Pedi caixas la no mercadinho da Rita. Não deu nem pro cheiro. Muito pequenas.
Comecei a entrar em agonia. Os livros. Eram muitos deles.
Lembrei da famigerada mala azul, que estava esquecida há mais de dois anos debaixo da cadeira do quarto. Era a minha chance de me livrar dela, não sem antes lhe dar uma funçao realmente edificante. Sem avaliar nada, dispensei as roupas que vieram de Belem e acomodei todos os livros. Um problema a menos. Note como as coisas vao tomando um certo contorno. Ta certo que ilusorio, mas ainda assim um contorno.
Pedi mais caixas pra Rita. So pra embalar a bagagem da sala, foram 4 de bom tamanho.
Mais uma caixa gigante para o enxoval. Outra para bolsas e sapatos. Sobrou uma.
Na segunda-feira passada, meu prazo estava estourando. E o saco tambem.
Não dormia há duas noites, tentando equacionar como eu iria levar tudo aquilo sozinha pro correio. Contratei o entregador do mercadinho pra me acompanhar ate o shopping, que, obvio, não apareceu na hora combinada. A exaustao começava a me dominar. Com a ajuda de um carrinho de supermercado, transportei todas as caixas e a mala de livros para o terreo. Temperatura local: 36 graus Celsius.
O porteiro e o taxista colocaram as coisas no carro. Ao chegar no shopping, um outro taxista conhecido veio nos ajudar a levar tudo ate o correio e pela primeira vez, em 11 dias, tive uma ajuda efetiva.
Ao chegar no correio, nova trapalhada: não se despacha mala por encomenda. So caixa. E la vou eu zanzar pelo shopping, mendicando caixas no Carrefour. Não tinha. Na livraria tambem não. So fui encontrar uma no deposito de lixo. A única limpinha que achei parecia um basset gigante. Passei os livros da mala para a caixa basset. Depois de pesada [18,4Kg] e lacrada, a funcionaria do correio descobriu que não poderia despachar: cubagem fora do padrao. La fui eu de novo. Achei uma alma caridosa numa loja de sapatos, que me cedeu uma caixa no tamanho adequado.
Quase duas horas depois, parte da minha bagagem tomou rumo de casa. Peso total: 53,8Kg. Pesava mais que eu.
Voltei pro ap. me sentindo um pouco mais leve e com a maldita mala azul debaixo do braço.
Disso tudo sobrou uma liçao: tenho que libertar a Dona Violeta que habita o meu ser. Nunca mais vou juntar tanta tralha na vida. Senti na pele o trabalho e a dor que isso traz.

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