23 julho, 2006

Aperta que cabe.
A noite que antecedeu minha partida tambem foi completamente insone. Eu estava tao dolorida, que tinha medo de adormecer e acordar com a musculatura travada. Optei pela vigilia, embora não conseguisse fazer nada durante a madrugada a não ser pensar, pensar, pensar.
A terça -feira da partida chegou. A tarefa era arrumar as roupas limpas no mochilao e as roupas usadas e os poucos sapatos que restaram na maldita mala azul.
Coisa simples.
Foi quando me vi engolida por uma arapuca: um armario de 6 portas e 6 gavetas. Ali havia roupas que eu nem lembrava mais que existiam. E eram muitas. Começou a corrida contra o tempo. O mochilao era grande, daqueles estilo coraçao de mae. Mas não era dois. Foi o meu segundo erro: subestimar o inimigo.
Desci ate o terreo e pedi sacos de lixo. Daqueles de 100 litros. Transtornada, avisei o zelador que iria desovar tudo na porta da lixeira. Ele falou de uma senhora conhecida que costuma passar la em busca de donativos. Foi o que me salvou. A ideia de que tudo aquilo seria doado foi um estimulo a me de desfazer de um monte de coisas que eu sabia que nunca iria usar. Num ato de puro desapego, foram doados 3 sacos de 100 litros, lotados ate a boca de roupas e sapatos. Apenas pedi para que fossem buscar em casa. Não tinha mais força pra nada.
Mas ainda tinha muita coisa dentro daquele armario, das quais eu não queria me desfazer de jeito nenhum. Dava impressao que brotavam das prateleiras. E o tempo passando.
Separei roupa, lingerie e sapato para a viagem e comecei a colocar o restante na mochila. E o espaço acabando. Desespero.
Deixei as prediletas por ultimo e percebi que não iriam caber. Não havia mais tempo de pegar um taxi para comprar outra mochila.
Lembrei-me da Heidi. As meninas devem se lembrar dela. Aquela menininha orfa, nomade, que não tinha mala, por isso vestia uma roupa em cima da outra. Lembram?
Eu tava decidida a lançar mao desse recurso caso não coubesse tudo. Tava mesmo.
Entao, fiz caber, com muito esforço, suor e, logico, muita oraçao para o ziper não arrebentar. Fechou.
Aliviada, comecei a me ajeitar para o banho. Foi quando descobri que tinha esquecido de separar uma blusa. Olhei pra mochila. Respirei fundo. Abri. As roupas, amotinadas, pularam todas pra fora. Peguei a primeira blusa que vi e reiniciei o trabalho de doma-las para dentro. Foi uma luta insana. Elas comportavam-se como aliens indomaveis. Novo esforço. Novas oraçoes. Consegui. Fechou. Mas não convem abusar da sorte novamente.
E o que seria o meu ultimo banho relaxante e prolongado no meu apartamento cor-de-rosa, acabou sendo apenas uma chuveirada rapida e sem glamour.
Ao me vestir, faltava outra peça: calcinha. Olhei novamente pra mochila. Exausta, conclui: quer saber? Fui.

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