18 dezembro, 2001

O sábado chegou e, com ele, parte dos meus pesadelos se concretizaram.
1- O Marujo tinha que ir buscar os filhotinhos, para a viagem, lá na clínica onde estavam hospedados.
2- Não tínhamos comprado as passagens - um fato bastante grave - ameaçava chover torrencialmente e descobri que eu tinha perdido o cartão com o telefone do ponto de taxi.
3- Raciocinando um pouco melhor, concluí que precisaríamos, na verdade, de uma frota de taxi pra transportar aquele monte de tralha que a gente tava levando pra Nikiti e isso iria nos custar uma grana preta.
4- Marujo saiu pra buscar os filhotes e eu fiquei aqui, pra tomar banho e arrumar a bagagem pessoal
5- Procurei o arsênico, mas não encontrei. A Nice deve ter guardado no armário de cobertores, como sempre.
6- O Marujo chegou de volta, deixou os filhotes dentro do container, com a caixa enorme das caixas de som e a porra do aparelho de DVD, no pobrezinho do porta-mala do meu Cascão.
7- Tive ímpetos de ligar pra minha mãe, mas acabamos abrindo uma garrafa de Xingú, que tava de bobeira na geladeira.
8- Começou a chover. Torrencialmente.
9- Bebi a Xingú. Na verdade, duas Xingú. Long neck. Dose medicinal.
10- Hora de partir. Godzila, quieto! Tem ossinho e biscrock sobre a mesa pra você, meu filho. Fica na sua, pelamordedeus!
11- Chovia torrencialmente. Deixei o Marujo na portaria e fui lá no ponto de taxi, pra ver se uma alma caridosa daria uma solução pro nosso caso grave.
12- O Osvaldo tava no ponto de taxi. Santo Osvaldo. Osvaldo é um taxista sangue bom, que sempre me socorre quando estou em apuros. Uma vez, eu caí aqui em casa e torci o pé. Amanheci com o pé inchadaço. Uma bolota imensa. Osvaldo me levou pro hospital, teve o maior cuidado comigo. Eu confio no Osvaldo. Cheguei lá e contei minha história triste. Osvaldo é gago. Custou a eu entender qual era a solução que ele sugeria. No final das contas, acabei entendendo: ele parou um taxi e teve um papo de colega pra colega, manja? Conseguiu convercer a taxista a participar da empreitada. E continuava a chover.
13- Foi coisa de filme: dois taxis, em comboio, entrando aqui na garagem do prédio, pra dividir aquele monte de tralha em dois carros. Juntou vizinho pra ver. Foi bonito.
14- Então ficou assim: o Osvaldo levou nossa bagagem, mais o containner com os dois gambás dentro - cês não têm idéia do quanto aqueles filhotes estavam fedendo, dava medo - mais a porra da caixa enoooorme com as caixas de som e mais o pacote com o raio do aparelho do DVD.
15- Eu e o Marujo iríamos a Nalva, a taxista solidária. ;O) Eis que o porteiro sai gritando: Dona Ana, encomenda pra senhora!!! Caralhos me fodam! Chega por hoje, né? Hunf!
16- A porra do iPaq que eu tinha comprado de presente de formatura pro Marujo resolveu chegar justamente naquela hora. Meleca! O pacote era enorme. Well.. Um a mais, um a menos.. Alguém mais quer ir junto??? A gente pode apertar mais um pouco. Grrr.
17- Chegamos em 2 taxis, ao aeroporto. Chovia. Chovia muito. E os filhotes fediam mais ainda.
18- Compramos as passagens. Pela Vasp. Merda pouca é bobagem. Relax.
19- Conseguimos despachar o containner com os gambás, a caixonas com as caixas de som e a porra do DVD. Ficamos com as bagagens de mão e a porra do pacote imenso do presente inesperado do Marujo. Meleca.
20 - Ueba! Sala do Diners existe pra essas emergências. Plano perfeito: vamos reduzir o tamanho dessa embalagem e colocá-la na minha mochila. Perfeito. Um pobrema a menos.
21- Nada como fazer aniversário. A vida ensina: de cada problema que vc se livra na vida, nascem dois, na seqüência. É, praticamente, uma progressão geométrica. Devido à chuva, Congonhas estava temporariamente fechado pra pousos e decolagens. Zuuudo bem. Não é culpa da Vasp, certo? Certo.
22- Duas horas depois.... Descobrimos que nosso avião pousou em Cumbica e levaria mais uma hora pra pousar em Congonhas. Em casos otimistas, embarcaríamos às 15h. Meleca! Os gambazinhos estavam no containner. Tadinhos! E chovia que dava dó..
23- Resumo: a Vasp, pra não perder o costume, fez uma lambança de dar medo. Juntou o que seria o nosso vôo com o seguinte. Fez uma trapalhada atrás da outra no embarque, de modo que: avisou aos passageiros, em terra, que os assentos marcados valeriam os do vôo 4012 - o nosso. E que, os assentos que restassem seriam dos passageiros do vôo seguinte. Seria perfeito se eles tivessem avisado a tripulação. Básico, não? Não, não pra VAsp.
24- Embarcamos e nossos assentos já estavam ocupados por uma família que era do vôo seguinte. Educadamente, explicamos as ordens do pessoal em terra. A família se recusou a sair do lugar. Grr...Mas não posso culpá-los por isso. Eles alegaram que receberam essa orientação, a bordo: vale a lei da selva. Chegou primeiro, senta.
Chamei a aeromoça. Expliquei o ocorrido. A puta deu de ombros. Tive ímpetos de partir pra jugular da criatura. Quem me conhece, pessoalmente, sabe que eu sou mais de abusar do cinismo, do que da força física (até porque, com esse porte todo, mal sou capaz de arrancar um pé de salsa). Ouvi algo que me soou como - Senta onde der, não posso fazer nada.
Marujo segurou a minha onda. Eu esganaria aquela aeromoça.
25- Por volta das 16h, desembarcamos na Cidade Maravilhosa eu, o Marujo, minha mochila, com o pacote do iPaq dentro, mais a mala dele, e fomos pra esteira esperar o containner com os gambás, à essa altura famélicos, talvez desmaiados, mais o caixote com as caixas de som e a porra do DVD.
26- Acredite: chovia torrencialmente. Mereço, né? Pois é.
27- Como Deus é Pai, conseguimos, rapidamente, um taxi, uma Santana Quantum, que nos levou, com tranqüilidade, até Nikiti. Tá certo que o motorista reclamou pra caraio do cheiro dos pequenos gambás. Não posso culpá-lo por isso. Até que a gente não pode reclamar da sorte. ;O)


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