18 dezembro, 2001

Chegamos em Nikiti, a bordo do santo taxista, puto nas calças, com o fedor dos gambazinhos e com a porrada de bagagem pra descarregar.
Num canto do jardim, um saco imenso de ração abrigava o corpo da pequena Yoko. Foi uma iniciativa da nossa querida Santa Carmem, que cuida como uma mãe, dos cães do Marujo.
Durante a madrugada de sexta para o sábado, uma criatura insenta de alma envenenou a minha pequena Yoko. Ela seria minha. O Marujo a tinha me dado de presente. Era uma pequena filhota, inocente, de apenas 6 meses de idade, brincalhona, divertida, incapaz de matar uma mosca, que tentava apenas imitar os adultos, a Orca e o Redinho, na guarda do portão da casa.
Yoko era quase minha.
Quando chegou em Nikiti, no início de novembro, parecia assustada. Eu a ambientei na casa. Ofereci um biscoito amigo à ela.
Atrapalhada, desconfiada e nervosa, ela abocanhava o biscoito, corria pela casa toda e me devolvia. Brinquei muito com ela, dessa forma, tentando ensiná-la. Tentando apenas mostrar à pequena Yoko que ela estava entre amigos, e que poderia comer e se deliciar com aquele biscoito. Era a minha forma de dar-lhe boas-vindas.
E ela se acostumou em casa, assim.
Não tivemos tempo hábil pra ensiná-la que não se deve aceitar comida de estranhos. Ela era uma criança e assim devem ser ensinadas as crianças: estranhos, out!
Ironicamente, Yoko morreu dessa forma. Foi envenenada por um algoz que lhe ofereceu a morte, pelo outro lado do muro.
Isso não vai ficar assim. Não mesmo.
Para o seu funeral, não tínhamos uma única flor em casa. Nem de plástico.
Tínhamos apenas um pacote de biscrock.
Escolhi o biscrock verde. E ao lado dele, a Yoko se foi, pra virar esqueleto.
Triste? É. Eu fiquei muito triste e chorei um pouco.
Mas o filho da puta que fez isso vai pagar. Ah! Já deve estar pagando. Meu São Francisco não vai deixar essa passar, assim, impunemente. Confio nele. ;O)

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