Dias corridos por aqui.
Enquanto isso, um Feliz Natal, meus amores tão sinceros, tão queridos.
Volto em breve.
24 dezembro, 2009
18 dezembro, 2009
O garoto triste e a gaita perdida.
Da arte de (quase) perder amigos – Parte I.
- Eles eram muito amigos. Não aqueles amigos de longa
data. Mas foram fiéis companheiros de masmorra e açoite por
madrugadas a fio, nos tempos de trabalho árduo na
Máquina de Moer Ossos. A lealdade se estendia também aos
momentos de alento, nas maratonas improváveis, vagando
pela cidade, contando as mazelas da vida e do coração,
afogando mágoas diversas e fechando bares até o dia amanhecer, em
busca da saideira perfeita. “Não perdoe quem lhe deu uma facada nas costas, apenas porque outro alguém lhe deu dois tiros no coração depois”, ela lhe ensinara uma vez. Ele aprendeu.
Escolhas e destinos encarregaram-se de separá-los temporariamente.
Ela foi trabalhar numa obscura Mina de Carvão em um bairro
distante. Bem mais tarde, obteve a dádiva de ser convidada
a trabalhar na torre de marfim de um pequeno Castelo
Encantado, do outro lado da ponte. A vida voltou-lhe a ser gentil.
Ele, aproveitando a larga experiência em rolling playing, aprimorou-se com
esmero e competência no ofício de mentor e comandante de um pequeno
exército de jovens obstinados.
Há alguns meses, os dois amigos se reencontram numa
noite de chuva fraca, trânsito lento e temperatura amena.
Tudo tornou-se especialmente alegre, em nome dos velhos
tempos. Colocaram muitos assuntos em dia, boas histórias foram
contadas entre goles de bom vinho e longas gargalhadas. Aderiram à
prática vulgar da fofoca rasteira e do escutar conversas da mesa ao lado. Ao final de mais uma madrugada ébria, combinaram de se encontrar novamente dali a um ano.
Cada um seguiu seu rumo e, ao virar a primeira esquina a caminho de casa, ela notou que ele deixara cair acidentalmente a gaita mais estimada,
entre o banco do passageiro e o freio de mão.
No primeiro dia útil em que foi possível trocarem
mensagens instantâneas, ele, temendo pela resposta,
perguntou se, por acaso, a gaita teria ficado no carro dela.
Se tivesse caído no restaurante, já era. Aliviado com a
afirmativa, ele ressaltou, enfático, que a devolução
da gaita não estava inclusa no pacote de coisas que ficaram
combinadas para o próximo encontro. - Um ano é muito
tempo, vamos deixar minha gaita fora disso, ele alegou
sabiamente.
Ela, cruel e indiferente, tripudiou da aflição do dileto
amigo. Vazou. Ficou um bom tempo sem dar as caras ou uma notícia sequer.
Assoberbada pelo excesso de afazeres ela estava. Usou uma
vez a argumentação manjada para o sumiço e a indiferença.
Ele seguia a vida. Porém sem nunca entender, quase dois
meses depois, porque inexplicavelmente lhe estava sendo
negada devolução da sua tão querida gaita, por sua
tão estimada amiga. Mas a vida dele seguia mesmo em
frente. E cada vez que amigos o convidavam para uma festa,
ou para uma pequena reunião, ou mesmo quando estava sozinho em casa, ele lembrava-se com saudades da gaita e com uma certa raivinha da amiga
ingrata. Ela não toca gaita, afinal. Nunca se interessou por gaitas. Não tem fetiches por gaitistas. É até provável que odeie gaitas. E gaitistas e gaiatos em geral. Chegou a cogitar que ela tivesse jogado sua gaita pela janela. Trocado por barbitúricos. Doado para a faxineira. Ou que houvessem tantas outras gaitas misturadas em sua lotada gaveta de achados e perdidos, que talvez ela nem soubesse mais qual era de quem. Vaca.
Passaram-se mais de dois meses e ela permanecia blasé com
respostas evasivas, frases clichês, acenos de encontros para devolução, lançados displicentemente do alto de sua torre.
Ele estava a um passo de começar a odiá-la com força.
Fez uma última tentativa de negociação: - Leve a
minha gaita para sua torre de marfim no pequeno Castelo
Encantado e eu mando um mensageiro buscar. Simples assim.
Cheia de orgulho e brios, a moça respondeu que ela mesma
se encarregaria de providenciar o mensageiro, fazia questão e
blá-blá.
Não se sabe até hoje se por leviandade, falta de consideração e descaso, nunca conseguia se lembrar de levar a gaita da discórdia para o Castelo Encantando, a princesinha avoada. Alegava esquecimento e o tal do estresse. Na prática, não se importava com nada que orbitasse dois metros adiante do seu umbigo perfeito.
Até onde se tem notícia, ele ainda se pergunta porque
ela insiste em manter confiscado um mero troféu do acaso. Sem função
e sem significado.
Enquanto ela ainda até hoje se pergunta: o que pode haver de tão
importante naquela gaita tosca? Que cara mimadinho..,
- Mas ela devolveu a gaita?
- Até onde eu sei, não. É bem provável que tenha trocado por barbitúricos.
17 dezembro, 2009
09 dezembro, 2009
06 dezembro, 2009
03 dezembro, 2009
Em vez de ir almoçar, fui às compras em petit comitê com colegas da firrrma.
Foi quando eu me deparei no meio do bazar da Cori.
De enlouquecer.
Exemplo: tubinho Pied-de-poule, de alças largas e decote dissimulado.
Estilo Jackie K. O meu predileto pro resto da vida.
O chamisier roxo. A regata salmão. O trapézio marinho.
Escalpelei-me, é fato.
Minha cabeça dói pelas peças que comprei. E pela saudade das que não comprei.
Melhor nem pensar.
Foi quando eu me deparei no meio do bazar da Cori.
De enlouquecer.
Exemplo: tubinho Pied-de-poule, de alças largas e decote dissimulado.
Estilo Jackie K. O meu predileto pro resto da vida.
O chamisier roxo. A regata salmão. O trapézio marinho.
Escalpelei-me, é fato.
Minha cabeça dói pelas peças que comprei. E pela saudade das que não comprei.
Melhor nem pensar.
02 dezembro, 2009
Queridos,
Nunca nos quase 9 anos (!) de história deste Ventilador alguém pediu direito de resposta. Pois como para tudo na vida existe uma primeira vez, segue abaixo a réplica solicitada.
Com a palavra, Visionário da Cabeça Quadrada (?).
" Rá perdeu! Disse peremptoriamente a bela dama...
Obrigo-me a um singelo direito de resposta.
A perfeição vem da prática, afirmo novamente a batida máxima que deve ter sido posta no mundo por um pai Mesopotânico ou talvez uma mãe Anatóliana, dada a quantidade de primaveras da dita cuja.
Porém... apenas porém... a dama (reafirmar o adjetivo acima apenas serviria para incentivar a vaidade... esse pecaminoso sentimento sem a qual as mulheres seriam homens, mas condenado segundo o livro dos seguidores do Um Deus), voltando: a dama deixa-se levar pela oportunidade de um leve chiste, um lazer de leve com a minha face, como diriam nossos vizinhos cariocas mais dados aos coloquialismos, e assim deixa uma lacuna em sua tão bem redigida tese. Explico-me:
O que é a prática, a busca diante da perfeição inata de um ato?
Há aqueles que buscam constantemente. Que com o passar dos anos (talvez décadas) chegam a patamares inimagináveis em seus caminhos, com obras realmente dignas de lágrimas. Mas, haveria alguém de perguntar à grande maioria deles, os maiores mestres - e aqui refiro-me não aos geniaizinhos do dia a dia, e sim aos irrefutáveis, como Da Vinci, Verne, Platão, Aristóteles e muitos etcs, com o perdão da linha do tempo emaranhada - se eles alcançaram seu apogeu, sua dita perfeição através de tanta prática e teria como resposta - aqui me abro para um pequeno devaneio boêmio: seria capaz de que se sentasse, pedisse uma bebida contemporânea à época, e passasse algumas horas fazendo com que o infeliz se arrependesse de ter entrado numa máquina do tempo e ido pra tão longe de casa perguntar uma idiotice dessas. A perfeição é apenas vista em espelhos que não refletem a luz, cara dama; jamais é percebida pelos que a carregam.
E agora mais um ponto de concordância discutida: no suicídio não se aplica mesmo. Por que, e perdoem-me os otimistas não românticos, o suicídio é perfeito em si.
É um ato discutível, é bem verdade, porém em qualquer uma de suas muitas formas alcança sempre o mesmo objetivo. Na mesma intensidade e efeito. Transforma a vida em morte, rápida ou lenta, dolor ou não, com perfeição.
Sem mais, paro agora e saio para uma leve carraspana (sim, essa eu aprendi com vc), deixo aqui, tanto a réplica quanto a dama, para reflexão. E espero, com água na boca, a tréplica.
Visionário da Cabeça Quadrada."
Nunca nos quase 9 anos (!) de história deste Ventilador alguém pediu direito de resposta. Pois como para tudo na vida existe uma primeira vez, segue abaixo a réplica solicitada.
Com a palavra, Visionário da Cabeça Quadrada (?).
" Rá perdeu! Disse peremptoriamente a bela dama...
Obrigo-me a um singelo direito de resposta.
A perfeição vem da prática, afirmo novamente a batida máxima que deve ter sido posta no mundo por um pai Mesopotânico ou talvez uma mãe Anatóliana, dada a quantidade de primaveras da dita cuja.
Porém... apenas porém... a dama (reafirmar o adjetivo acima apenas serviria para incentivar a vaidade... esse pecaminoso sentimento sem a qual as mulheres seriam homens, mas condenado segundo o livro dos seguidores do Um Deus), voltando: a dama deixa-se levar pela oportunidade de um leve chiste, um lazer de leve com a minha face, como diriam nossos vizinhos cariocas mais dados aos coloquialismos, e assim deixa uma lacuna em sua tão bem redigida tese. Explico-me:
O que é a prática, a busca diante da perfeição inata de um ato?
Há aqueles que buscam constantemente. Que com o passar dos anos (talvez décadas) chegam a patamares inimagináveis em seus caminhos, com obras realmente dignas de lágrimas. Mas, haveria alguém de perguntar à grande maioria deles, os maiores mestres - e aqui refiro-me não aos geniaizinhos do dia a dia, e sim aos irrefutáveis, como Da Vinci, Verne, Platão, Aristóteles e muitos etcs, com o perdão da linha do tempo emaranhada - se eles alcançaram seu apogeu, sua dita perfeição através de tanta prática e teria como resposta - aqui me abro para um pequeno devaneio boêmio: seria capaz de que se sentasse, pedisse uma bebida contemporânea à época, e passasse algumas horas fazendo com que o infeliz se arrependesse de ter entrado numa máquina do tempo e ido pra tão longe de casa perguntar uma idiotice dessas. A perfeição é apenas vista em espelhos que não refletem a luz, cara dama; jamais é percebida pelos que a carregam.
E agora mais um ponto de concordância discutida: no suicídio não se aplica mesmo. Por que, e perdoem-me os otimistas não românticos, o suicídio é perfeito em si.
É um ato discutível, é bem verdade, porém em qualquer uma de suas muitas formas alcança sempre o mesmo objetivo. Na mesma intensidade e efeito. Transforma a vida em morte, rápida ou lenta, dolor ou não, com perfeição.
Sem mais, paro agora e saio para uma leve carraspana (sim, essa eu aprendi com vc), deixo aqui, tanto a réplica quanto a dama, para reflexão. E espero, com água na boca, a tréplica.
Visionário da Cabeça Quadrada."
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