09 maio, 2003

Coisa de doido.
Hoje acordei decidida a cumprir todas as minhas metas. Tô dando uma geral na minha vida. Estou adorando.
Uma consulta à uma nova médica era uma delas. Médica de convênio. Procurei lá no livrinho e arrisquei. Um tiro no escuro clássico. Não tentem fazer isso em casa.
Podia jurar que o consultório era numa travessa da Av. Sto Amaro.
Eu e minhas ilusões.
Tinha anotado que a rua era Desembargador Fulano de Tal.
Pois fui até a São Gabriel e nada da Desembargador.
Fiz o retorno. Achei um posto de gasolina.
Aprendam uma coisa na vida, meninas: não existe ser mais solidário com motoristas sem rumo do que os frentistas. Nessa, dei sorte. Além de um frentista solícito, tinha um moto boy abastecendo. Beleza. Tem uma Desembargador a três quadras daqui, terceiro farol.
Três quadras depois, descobri que tinha mesmo uma Desembargador. Mas não era o Fulano de Tal. Era a Desembargador Sicrano que Tal.
Não servia.
Fiz novamente o retorno, e voltei pra Santo Amaro. Parei num posto, no sentido oposto.
Esse frentista não era nada legal. Fujam dele. Mandou eu entrar na Cotovia e perguntar no ponto de taxi da esquina.
Entrei na Cotovia e não tinha nenhum ponto de taxi na primeira esquina.
Que grande filho da puta.
Não se pode confiar em nada, hoje em dia.
Liguei pro consultório, com a idéia de avisar que chegaria atrasada à consulta. Quanta ingenuidade a minha.
Telefone ocupado.
Shit!
Não estressar é a ordem do dia.
Fiquei lá no carro, esperando a velhinha do consultório resolver despendurar da porra do telefone.
Quinze minutos depois...
- Ah! Dona Ana. A sra. tá muito longe. Segue a Sto Amaro de volta, até passar o Borba Gato.
(arggggggggggh!!!!! Borba Gato não!!!! Meeeedo!!!!)
Depois a sra. segue em direção ao Largo 13.
(puta que me pariu!!!! Largo 13??? Ai, ai, ai)
Daí, a sra. vira à esquerda. E segue até encontrar o cemitério.
(sim, tudo começa a fazer sentido, agora. Isso não vai dar certo, melhor voltar pra casa.)
O final da nossa rua fica bem em frente ao portão do cemitério.
(estou adorando o cenário. Muito obrigada. Eu chego lá, já que cheguei até aqui).
Pronto. Cheguei.
O cenário era mesmo assustador. Rua movimentada, comércio pra lá de popular. Difícil de achar lugar pra estacionar o Cascão. Mas eu cheguei, isso é o que importa.
A casa mais estranha que já entrei na vida.
A velhinha do telefone me atendeu calorosamente. Não era tão velhinha quanto a sua voz soava ao telefone. Mas a casa era muito, muito estranha.
Não era um lugar onde você se sentisse mal. Apenas estranho. A boa e velha desconfortável sensação de estranheza.
Sentei-me no sofá.
Abri meu livro e tentei me concentrar na leitura. Não deu.
Senti sede. Tinha um bebedouro na sala.
Peguei um copinho. Era daqueles copinhos descartáveis próprios pra servir gelatina de limão em festa infantil. Coisa estranha. Notei a emenda do carpete remendada com fita crepe. Gambiarra.
Medo. Acho que vou sofrer uma lobotomia a céu aberto nesse muquifo.
Não, não. Respire. Relaxe.
Por uma fração de segundos, senti-me como Simplesmente Alice. Wood Alen, manja?
Já que estou aqui, foda-se. Vamos ver o que acontece.

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