21 setembro, 2001

Quinta-feira, lá pelas 16h..
Tocou o celular. Atendi.
Olha só as coisas que eu sou obrigada a ouvir. E, claro, a tentar responder.
Juro, não é piada. Aconteceu com eu-zi-nha.

- Alô, Ana?
- Sim? Quem é?
- É (...), do Banco (...)
(Glump! Faz tempo que não uso essa conta. Que merda será que eu fiz dessa vez?- pensei )
- E aí, Ana, como é que anda a vida? Onde é que você está trabalhando, agora?
(ai... deve ser o bom e velho pobrema no tal do saldo médio que tá baixo - pensei )
- Pois é, Ana. Tem alguma agência nossa próxima ao seu trabalho?
- Sim, aqui em frente. Coisa de atravessar a rua e eu tô lá.
- Ai, que ótimo! Então vc podia aproveitar e movimentar mais a sua conta. Cê conhece todas as vantagens, né?
- Sei, sei. Por sinal, a-do-ro vocês, estou su-per-con-ten-te com todas as facilidades. A agência tá sempre vazia. É superbem decorada. Sou superbem atendida. Acho o máximo.
(comecei a achar tudo meio esquisito, afinal, o que que o cara queria, porra????? )
- Então, você deveria transferir seu salário pra nossa agência, pois se vc mandar um DOC estará isenta de uma série de taxas.
(e a pícola fortuna que eu vou pagar por um DOC não conta, não, né, seu tonto? :ppp - pensei )
E a conversa prosseguiu, até que 30 segundos depois, ele detonou:
- Ana, você tem seguro de vida?
(xiiiiiiiiiii!!! - pensei)
- Err... Não, por que??????????
- Porque se vc fizer um seguro com a gente, você terá uma cobertura 2 X em caso de morte natural (morte natural, pra mim, não existe - pensei ), de X em caso de morte acidental (sacanagem, é mais provável eu ter uma morte acidental, já que morte natural, pra mim, não existe, certo? - concluí), e mais 3 Y em caso de não sei o que. Só faltou me oferecer 3 meses de isenção de tarifa no paraíso, o sacana.
- Errr...
- Vc é casada?
- Errrr..., não.
- Mas, então, caso aconteça alguma coisa com vc, sua filha terá um futuro garantido. Vc não terá com o que se preocupar.
(acredito que, eu estando mortinha-da-silva, não teria mesmo com o que me preocupar. Apenas com o pugatório -pensei. Mas, enfim..)
- Certo.. Err..
( a agora, vem o melhor da história, a pérola do século. Acho que a pérola de todos os séculos.)
- Onde você trabalha é um prédio, ou é uma casa?
(comecei a rir, não deu pra agüentar)
- É, Ana, prédio alto, aviões, tudo pode acontecer hoje em dia, né?
- É, eu vi. Aconteceu na semana passada, né? Sim. Li nos jornais..
- Pois é. Cê num acha que seria legal garantir o futuro da sua filha?
(nessa eu já tava achando que era uma pegadinha do Faustão...)
- Sabe, (...), acho melhor não. Do jeito que esse mundo tá perdido, fazer seguro de vida é risco de morte.Já pensou se minha filha descobre?
- ....
(hu,huuuuu, consegui!!! - pensei)
- Com a cobertura, no caso da minha morte, que vcs estão oferecendo, vou acabar virando alvo fácil dentro da minha própria casa. Melhor não, meu filho.
- ........
(silêncio sepulcral do outro lado da linha.. , he,he)
Resolvi quebrar o silêncio. Apesar de tudo, o (...) é boa gente. Só estava fazendo o trabalho dele.
- Agora, (....), cê vc tiver um plano de aposentadoria batuta pra mim, me manda a proposta,que eu vou analisar no final de semana, tá?

De novo, eu pergunto: por que sempre comigo. Hein, hein, hein?
Mereço?

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