04 julho, 2008

Eu, paspalha que sou, acredito em quase tudo que me dizem.
Quase tudo.
Daí que disseram que pinga vagabunda é ótima pra
limpar cola grudada no vidro do carro. Melhor do que muito
limpa-vidro que tem por aí.
Evidentemente eu acreditei.
O vidro do Caveirão tá com umas marquinhas nojentas e eu
acho isso um crime. Mas não serve qualquer pinga. Tem que
ser daquelas bem ordinárias mesmo. Melhor ainda se for das
de casco escuro e rótulo desbotado.
Estaria o cara me zoando?
Sexta-feira passada estava um dia lindo, perfeito para
limpar vidros de carro, eu me sentia saltitante e bem
disposta, então resolvi procurar a mais marvada dentre as
marvadas.
Eu ando numa fase muito pão-dura, de modo que não compro
um alfinete sequer sem antes fazer licitação, pesquisa
de preços em três estabelecimentos, no mínimo.
Parei no primeiro supermercado. A que me pareceu mais
vagabunda custava
R$ 2,99, mas não era uma autêntica, daquelas em casco
escuro e rótulo desbotado.
Parei no hipermercado e a coisa ficou pior. Não tinha
daquela mesma marca, muito menos alguma conforme o briefing.
Tinha uma outra que custava R$ 3,50, uma fortuna, e era
praticamente uma cachaça de bacana, me pareceu pelo
jeitão.
Eu precisava de algo mais rústico.
Resolvi tentar uma medida radical para resolver de vez o
impasse.
Quase perto de casa, parei num daqueles botequins de bairro,
que também vende vassoura, desinfetante contaminado,
maria-mole de anilina e milho duro a granel. Tudo bem
empoeirado.
Quem me atendeu foi uma senhora portuguesa, de avental de
bolinhas azuis, visível mau humor e bigodes
impressionantemente fartos.
Numa prateleira mais ao alto estavam as garrafas de
cachaça, protegidas por uma densa camada de poeira e
resíduos de teia de aranha.
- Quanto custa aquela ali, a 29?
A tal 29 me pareceu mesmo perfeita: casco escuro e rótulo
tosco.
Com um sotaque caricato e quase bufando, a portuguesa
indagou:
- A dose ou a garrafa?
Oito e dez da manhã, marcava o relógio na parede.
- A garrafa.
- Doish e noventainovi.
- Estaish maluca? Por doish e noventainovi eu posso
compraire uma Jamel, minha senhora. Uma Jamel!, pensei.
Agradeci e eu estava saindo quando ela me chamou de volta:
- Tem eishta aqui por doish i cinquenta, maish precisa
trazeire a vasilha pra trocaire.
- Bebeishte, foi?
Vamos tentar entendeire: tratava-se de uma Corote (!!), a
escória de todas as cachaças vendidas nas piores bodegas
do ramo, na periferia de Manaus. Te mete. Envasada em uma
espécie de granada de plástico. Pinga de bandido.
Prestenção: a embalagem de Corote é de prás-ti-co.
Eu fico me perguntando de onde foi que a portuguesa inventou
essa parada da tal troca de vasilhames.
Hipóteses:
Ela está montando uma instalação nos fundos do bar.
Ela coleciona. Acha as granadas de plástico muito fofas e
tem dó de se desfazer.
Ela usa como recipiente pra fazer gelinho de pinga e vender
em dia de jogo.
Aquela pocilga decadente é apenas um negócio de fachada.
A principal fonte da renda da família seria as granadas de
fabricação caseira, exportadas quinzenalmente para o
Oriente Médio.
Quer mesmo saber?
Aqueles bigodes não me enganam.

4 comentários:

Anônimo disse...

Cada uma, Ana! Morri de rir! Eu não sei se pinga funciona mesmo... a pessoa que te indicou explicou a forma de uso? É pra tomar ou passar no vidro? kkkk depois de tomar uns tragos dessa iguaria nacional, qualquer mancha desaparece? :) bom, se funciona mesmo não sei... tenho certeza de que removedor remove (pleonasmo?? :)) resíduos de cola. Mas se a pinga funcionar vc teve vantagem, pois o frasco de removedor não custa menos R$ 2,50... Depois vc conta se deu certo, tá? bju

Silvinha disse...

huahuahua... como a monique falou, sera que é p/ beber ou p/ passar no vidro??

i falar purtugueis di Purtugal vicia, ora pois...

Adeusinho!

Ale Ber disse...

mas e no fim, limpa ou não limpa????

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

hj, na hora do almoço, vi que estão vendendo licor de cupuaçu e outras frutas... na garrafinha de Corote.

Coisas de LOSTM.

bjs.