Histórias de Elevador, penúltimo capítulo.
Sexta-feira, 18, 13h30.
Eu e diretora de arte entramos no elevador com a porta quase
fechando. Uma moça apertou um botão e nos salvou de um
massacre. Aquela porta é louca.
O dia estava esquisito. E nem era o meu humor que estava
péssimo. Não. Eu era apenas uma portadora de ausência
completa de sono e de traquejo social, sem perder a ternura,
que agradeceu polidamente a gentileza da desconhecida e
começou a ler a página de esportes do Metro.
Minha dupla foi bem mais simpática. Aliás, ela sempre
foi.
No trajeto entre o térreo e o primeiro andar, começamos
a desconfiar que simpática desconhecida era uma pessoa
interessada na vida das pessoas e na razão social das
empresas. Aquele tipo de gente movida pela curiosidade.
- Que andar vocês vão?
- Xis, por favor, obrigada.
Simpática Desconhecida, solícita, apertou o botão do
nosso andar e o do andar dela, que pra nossa sorte, era
apenas o X/3. Pertinho. Foi nessa hora que ela assim, como
quem não queria nada, indagou:
- Nesse andar que vocês vão tem o quê?
- Você quer realmente saber?, pensei.
- Uma agência, respondeu a diretora de arte que, alem de
simpática desde criancinha, tem um traquejo social muito
melhor que o meu.
- E o que mais tem lá?
- Um cofre, um cheiro estranho nos dias de chuva, formigas,
a melhor pizza da cidade, sem falar do mistério da mesa de
luz, cujo tampo de vidro quebra a cada semana e já quase
matou dois, pensei enquanto virava a página do jornal.
- Só tem essa agência mesmo, ocupa o andar inteiro,
disse a diretora de arte começando a estranhar o
inquérito.
- E o que vocês fazem lá?
- A brincadeira do copo sobre a mesa de luz, quando os caras
da vidraçaria conseguem consertar a mesa no prazo, o que
raramente acontece, pensei.
Comecei a achar que teria ocorrido um assassinato no
prédio, daqueles que não repercutem largamente na
mídia e Simpática Desconhecida era detetive. Por isso
era desconhecida entre nós. Sacou? Sacou? Ham? ; )
- Somos uma dupla, redatora e diretora de arte, respondeu
minha dupla.
- Errada a resposta, amiga. Melhor seria dizer que somos da
equipe de serviços de apoio: você é a moça do café
e eu sou da faxina.
Que bela chance desperdiçamos, pensei.
Finalmente chegamos ao andar de Simpática Desconhecida e
pela primeira vez em todos estes meses, eu me dei conta do
quanto aquele elevador é lerdo. Rende assunto e era dia
que eu apenas queria ficar quieta.
Chegamos na agência que não tem cofre [citei pra dar
climinha noir :], mas a mesa de luz tem história. Ah, tem.
Olhei para a recepcionista, uma jovem linda e sorridente.
- Voce tá vendo aquela mocinha ali? Pois ela está
sentada na mesa diante do computador apenas pra verificar
seus recados no orkut. Hora de almoço. Ela é do setor de
limpeza de janelas. Limpa todas, diariamente. Pendurada pelo
lado de fora. Faça chuva ou faça sol, pensei.
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