31 março, 2008

No sábado, saí da agência, por volta das 2h30 da
madruga, com uma vaga esperança de que a chave de casa
estivesse caída no porta-mala do carro.
E também rezava fortemente pra que estivesse na porta de
casa mesmo.
Não estava.

Comecei a considerar seriamente a hipótese de dormir em um
motel.
Me pareceu uma idéia bastante razoável, dadas as
circunstâncias e o adiantado da hora.
Parei na portaria de um que me pareceu ser um motel de
família.
Concluí que não iria pagar 190 reais por 5 ou 6 horas de
sono. Desaforo.
Confesso, o dia e a noite estavam tão truncados que não
era hora de brincar com a sorte, Tive medo.
Um dia, eu juro, só de brincadeira vou dormir sozinha num
motel e conto tudo pra vocês.
Naquela noite, não.
Dei meia volta.
Cogitei dormir na casa da minha mãe. Daí eu me imaginei
ligando pra ela, em plena madrugada. Ciça Mãe ainda
está traumatizada com o telefonema do falso sequestro da
Olívia. Caso eu ligasse, talvez hoje eu não tivesse uma
mãe morta, mas certamente uma mãe com a saúde bastante
debilitada.
Resolvi preservá-la.

Estacionei na garagem de casa e me joguei no banco de trás
do Caveirão.
Enquanto não conseguia dormir, me diverti um bocado.
Ouvi música, li a Capricho da quinzena passada, pensei nas
mazelas da minha vida e no quanto eu preciso ser mais
atenta a alguns detalhes cotidianos, tipo chave de casa, por
exemplo.
Ódio mortal de mim.
Tentei dormir e obviamente não consegui.
Passei por aquele tormento que é cochilar sonhando e
acordar sem saber se sonhou ou o que foi. Delírios.

Pensei que sonhos fossem verdade. Enganos.
Quase ao amanhecer, o tempo esfriou muito.
Quase congelei.
Abri o porta-mala do carro, alcancei a mochila da academia.
Calcei minhas meias. Clamei por cobertas. Não havia.
Tentei dormi. Frio. Muito frio.
Alguma fome também. Tentei abstrair.

Acordei, já havia alguma luz do sol.
Mas ainda era cedo.
Meu corpo doía, eu estava exausta, gelada e tensa.
E o frio me atormentava. Eu queria minhas gotinhas mágicas
de criar sono.
Tentei ouvir um pouco de rádio, mas não.
Não rolou.
Imaginei que eu deveria me sentir uma mulher feliz.
Eu era uma homeless abrigada.
Caveirão havia se transformado no puxadinho lá de casa.
Poucas pessoas têm esse privilégio, eu tinha mesmo era
que agradecer.
Eu estava congelando com minha roupa pequena, mas eu tinha
que aguentar mais um pouco, ainda não eram oito horas, eu
tinha que fugir das tarifas noturnas dos chaveiros 24 horas,
aqueles exploradores da desgraça alheia.
O pior já havia passado.
Seja homem quando for preciso, Ana - me aconselhou uma vez
um ex-amor.

Comecei a observar em volta. Meu carro estava uma zona.
Sandálias de salto no lado do passageiro, roupas de
ginástica usadas inutilmente como coberta, a rosa vermelha
que ganhei murchando no painel, o pão de batata com frango
de sexta, que sabiamente não comi.

Escondida no carro, vi a vizinha do 14o saindo, talvez para
passear.
Sempre a achei uma idiota. Mas era uma idiota que, sem
dúvida, dormiu protegida em lençóis limpos e estava de
banho tomado.
Merda.

Fui até a padaria, pedi vitamina de frutas, pão na chapa
com queijo branco e café quentinho.
Voltei a me sentir humana.
Enquanto isso, eu pensava: preciso de cópias de chaves,
muitas, muitas. Quantas o meu dinheiro puder comprar.
E preciso também criar ambiente mais favorável pra
Caveirão.
Tipo cobertor Parayba, travesseirinho portátil e comida
liofilizada no porta-mala, porque o inverno tá logo aí.
E nunca se sabe o dia de amanhã.

E vou ter que distribuir chaves: uma pra mim, outra pra Oli,
outra pra morar no Caveirão, outra pra Ciça Mãe, uma
pra deixar na firma, uma pra sortear entre os amigos e outra
pra dar pra alguém que teje pricisanu.
Acabou a fase da miséria de chaves aqui em casa.

Passado o pesadelo e pouco antes de dormir, subi até a
floricultura.
Comprei rosas brancas para o meu banho. Porque era sábado,
dia de faxina pesada e eu tava precisando.

12 comentários:

Ale Ber disse...

tu é uma figura. só vc mesmo. vira roteirista do próximo programa da globo. please: com a fernanda torres no papel principal, de Jama.

Anônimo disse...

Fernanda Torres, eu???????
Gostei dessa parte de ser roteirista. :O)
bjs
PS: agora eu pergunto: o que vc faria no meu lugar? Hein?

Anônimo disse...

mas onde estavam as chaves? ou vc chamou o chaveiro? foi o que me deu ódio da telefonia amazonense, nao saber o fim da história. GRRRR

Anônimo disse...

Tive que chamar o chaveiro, trocar o miolo, etc. etc.
Inexplicável o sumiço da chave.

Anônimo disse...

eu tive a chave da casa dos meus pais por 30 anos. Nunca perdi :)))))

mas é só, perco tudo sempre

Ale Ber disse...

eu iria pra um ibis ou formule 1, né mané?

Anônimo disse...

Ui. E tem um Formule 1 quase perto de casa.
Mané, eu. :/

Anônimo disse...

Ale tirou as palavras da minha boca.
Eita "Ana das Chaves"!
:-))))
beijinho!

Anônimo disse...

Pelo menos desta vez não tive que encarar o chaveiro que fazia esculturas toscas na areia e fotografava. Praticamente um Tonho da Lua, lembra?
Agosto de 2007. :)
Já considero uma evolução.
:O)))

Anônimo disse...

Ola Mocinha,
fazia tempo que eu não passava por aqui ... falaserio ... que situação rs... concordo com os outros post ... deve virar roteirista ...

bjs

Ana Almgren disse...

Oi, Jorge!
Quanto tempo!
Cê viu que situação? Pra não virar roteirista, providenciei 6 cópias da chave. Num passo por essa nunca mais : )
Beijo!

Anônimo disse...

Hahaha

Ja tentou aqueles chaveiros importados com som? Ou então, uma fechadura que reconhece as digitais ... ja estamos no séc. 21.

Bom fds praVC ... com este friozinho

Eu estou em fuga para um choco em CJ e principalmente fugir da midia ... eu não aguento mais ouvir sobre esta fatalidade que aconteceu em sampa. PoramordeD´us ... sera cultural? Como este povo gosta de tragédia!! Se tiver uma tv ligada em Campos eu quebro hehehe

E vc cuidado com as pantufas. Medo Muito Medo!! Brincadeira!!

Bjs