06 outubro, 2007

Eu vou sentir muita falta disso tudo. Muita, muita.

Mês passado, na semana do feriado, sala de reunião,
quase madrugada, pra fechar o conceito da campanha. Foi
tenso, muito tenso, no final cliente aprovou, deu tudo
certo. Mas durante, teve o momento brainstorm. No caso,
shitstorm.
A.1, o redator e regente da parada: - Qual a imagem?
A.2, no caso, eu: - Agulha, seringa.
D., diretor de arte - E se a gente desse um close num
ventríloquo?
A.1: - ???
A.2: - What?
D. - Vai ficar bonito. A gente mostra o ventríloquo,
página inteira, e A2 faz um puta título. Fechou.
Silencio
A.1 retoma: - Imagem?
A.2: - Putz. Tenho que pensar mais..
D.: - Por que vocês não gostaram do meu ventríloquo?
Tem tudo a ver.
A.1: - Cala a boca.
A.2: - D., cê tá bem?
D.: - Ventríloquo não é aquela válvula do
coração, tem duas, o ventríloquo direito e o
ventríloquo esquerdo?
A.2:- Puta merda, D. Hello!
A.1: Ventrículo, animal. Ventrículo.
D.: - Ventríloquo é o boneco? Não é a válvula?

D. me pareceu um tanto confuso naquela noite. Todo mundo
cansado.
............
Quarta-feira desta semana, um mês depois, horário de
almoço, japa, esquema 30-reá-e-come-até-morrer. Lindo.
À mesa, D1, que era o D., o perturbado da sala de
reunião do mês passado, D2, um rapaz que eu julgava
inocente e A., no caso, eu .
D2 despeja shoyo na vasilhinha e nela mergulha um sushi
diferentão, que parecia um barquinho com o casco feito de
pão, eu nunca tinha visto aquilo.
Silêncio contemplativo. Os três de olho no shushi
diferentão, mergulhado naquele mar de shoyo.
D2, em tom quase pueril: - Olha! O mar de shoyo se abriu
para a Arca de Moisés passar!
Silêncio.
D1. e A. se entreolham, tentando concordar telepaticamente
que D2 tava zoando.
D2 continua maravilhado com a imagem do mar de shoyo que se
abriu para a Arca de Moisés passar.
Por um momento, A. teme que D2 afirme que a Arca de Moisés
transportava uma porrada de hebreus fugitivos do Egito.
Não. D2 apenas devora a Arca de Moisés, num bocado
só. E o mar de shoyo se fecha.
D1 faz questão de esclarecer, professoralmente, a D2 o
brutal equívoco histórico.
A. colabora, trazendo uma informação atual e relevante,
tipo, em breve, vai chegar ao Brasil O Todo Poderoso 2, que
trata exatamente da reconstrução a arca de NOÉ, aquela
que transportava casais de bichinhos.
E todos voltam ao trabalho quase morrendo de tanto comer. E
A., eu, intui que, em breve, um fato novo há de acontecer
para fechar todo esse ciclo de surtos bizarros.
E eu juro pra vocês que a gente nunca bebe quando tá de
serviço. Juro.Nem usamos drogas.

No dia seguinte, A ., no caso, eu, recebe um e-mail do amigo
G., que nem é de São Paulo. O cara mora longe.
Subject: A verdadeira história do sacrifício de
Abraão.
Perceba que todo um horizonte divino de merdas possíveis
vai se abrindo.
A piada, muito boa por sinal, contava que Abraão amarrou o
filho na árvore (outro equívoco histórico, né?) e na
hora que iria matar o garoto, ouviu a voz do Homi:
- Solta o moleque, Abraão! Eu só tava te testando,
rapaz!
E rolou aquela indagação toda, tipo: - Mas não foi o
Senhor mesmo que mandou?
- Solta o moleque! Deixa de leseira, Abraão!
Abraão obedece, desamarrra o filho e o dito cujo saiu
correndo.
E Abraão grita: - Filho, filho, o Senhor te perdoou.
Volta, volta, filho!
E, enquanto corria, o moleque gritava: - Perdoou, o
caralho! Se não fosse o ventríloquo, eu tava fodido!

Notou?
Desconfio que seja esta a minha função na Terra: o poder
de síntese.

Copiei a piada que G., oriundo lá do extremo Sul do
país, inocentemente mandou.
Encaminhei pra D1, o cara do ventríloquo, e pra D2, o
rapaz da Arca de Moisés.
Apenas com duas pequenas observações necessárias:.
D2, assim ó: esta parada do Abraão rolou bem depois
daquele lance da Arca de Moisés, ok?
D1, onde lê-se ventríloquo, leia-se ventrículo, tá?
Beijo.

Não obtive resposta.

2 comentários:

Anônimo disse...

Kkkkkk!
Sabe que um dia, no meu "antigo" trabalho, um colega saiu com a preciosidade: chamou "home theater" de "home teacher"!
Num güentei, né, óbvio!
Agora, aqui em casa, a gente só fala "home teacher"!!!! Acho que nunca vou esquecer esse colega!

Ana Almgren disse...

É por isso que eu te pergunto: o que seria das pessoas sem seus colegas da firma, né? :O)