24 setembro, 2007

Eu estava na minha mesa de trabalho, trabalhando como costumo fazer todos os dias.
E o fotógrafo oriundo do Leste Europeu chegou do nada perguntando se o café estava bom. Eu respondi, sem que ele me ouvisse, que pelo horário já devia estar café de velório e ninguém entendeu nada. Café de velório é uma piada interna que inventei há muitos anos e ninguém compreende bem o espírito da coisa. E é sem graça mesmo.
Então, Fotógrafo do Leste Europeu passou por mim com um copinho de café, e eu vi que estava café de velório, mas ele bebia mesmo assim e eu o perdi de vista em meio a multidão (?). Eu sentia muita, muita sede. Peguei minha caneca outra, porque roubaram a preta, e essa é branca e tem o tórax e ½ pescoço de uma girafa de um lado e o quadril de uma zebra numa sala de estar do outro lado. Eu fui até a cozinha me servir de água e na volta vi que Fotógrafo do Leste Europeu estava sentado no sofá da sala de vidro e ainda enrolava com o café de velório na mão direita. Nossos olhares se cruzaram e eu senti um baita frio na barriga e tenho certeza que me ruborizei, porque eu não sei mais paquerar. Eu voltei pro meu lugar, de onde podia ver a sala de vidro e Fotógrafo do Leste Europeu se comportava como um ilusionista e desaparecia a todo momento.
Eu estava brincando de ser Adriana Falcão e tentava definir diversos tipos de dores (!), quando ouvi a mais linda voz que já ouvi na minha vida, sussurrar algo ininteligível no meu ouvido esquerdo e me virei, instintivamente, e era Fotógrafo do Leste Europeu desejando minhas coxas enquanto jogava o copinho de café de velório no meu cesto de lixo e aqueles olhos profundamente azuis brilhavam de uma maneira que eu nunca vi.
Eu senti de novo aquele delicioso frio na barriga e balbuciei algo ininteligível e, se eu bem me conheço, algo de conteúdo estúpido e eu e ele ficamos perplexos com o tom delicado e sensual da minha voz.
Ele fez alguma outra coisa que eu não lembro, depois voltou, disse adeus e minha voz não saiu quando tentei dizer algo novamente estúpido, tipo tchau.
Tudo isso me faz crer que devo mesmo seguir os sábios conselhos da Alê e tomar a tal substância pro resto da vida. Passar a ter sonhos recorrentes com Fotógrafo do Leste Europeu, 3 vezes por semana, é tudo que minha pele precisa pra ficar sempre boa.

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