Um amor correspondido.
Eu tenho uma escova de cabelo anã. Daquelas que a gente compra na boca do caixa, em farmácia de bairro. Custou 3 reá. É bem vagabunda mas é perfeita para levar na bolsa para ajeitar as madeixas, em caso de emergência. Tipo, tropeçar num homem lindo. Casos de emergência têm sido cada vez mais raros por aqui, o que eu acho um desperdício.
Eu tenho também um porta-níquel. Ele é todo metido, todo cheio de brilhos e tal. Não fosse o comportamento que tem apresentado de uns tempos pra cá, eu diria que ele é gay. Ele vive na minha bolsa, porque moedinhas são itens de primeira necessidade. Mais do que a escova.
Basicamente eu tenho duas bolsas para usar no dia-a-dia. Uma bege, outra preta.
Quando eu uso a preta, nem me importo muito de não ocorrerem casos de emergência, porque não levo a escova. Não cabe. Já no dia em que decido pela bege, vira a festa do caqui: até óculos escuro viaja com estojo. E é também quando, numa espécie de Feitiço de Áquila no reino dos inanimados, o porta-níquel metrossexual encontra sua alma-gêmea, a escova vagaba.
E é aí que começam os meus problemas. Por mais que eu os coloque em lados separados, eles dão um jeito de ficar juntinhos. Eles têm vontade própria. E que vontade!
Na hora da correria, tento achar o porta-níquel, que nunca está no lugar. Vira, mexe, remexe, tá ele lá, com a escova.
Pior: tem vezes que eu pego o bendito e a vagaba vem junto, fazendo escâncalo, espalhando fios de cabelo sobre o balcão. Passo vergonha.
Porque |juntinhos| é modo de dizer. Eles vivem atracados, nas posições mais bizarras. Uma coisa quase pornográfica. Parece que rola um sentimento.
E quer mesmo saber? Chega a dar inveja.
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