Tarde da noite, voltando pra casa após um dia longo. Cigarro aceso. Note que esse péssimo hábito ainda vai me matar.
Chovia forte. Eu entrei no pátio do supermercado, abri o vidro pra pegar o raio do cartãozinho do estacionamento, sem o qual não posso sair antes de mostrar documento do carro, CIC, RG e carteira de vacina atualizada.
O mocinho da cabine, talvez com medo de molhar o bracinho, gesticulou para que eu entrasse. Na tentativa de fechar o vidro rapidamente com a mão direira, não sei o que aconteceu, não sei mesmo, mas a brasa ardente do cigarro caiu inteira no meu decote de tecido sintético. Alto risco de incêndio. No pavor, bati, abafei, gritei, blasfemei e o foco foi controlado. Dentro da loja, numa espécie de operação rescaldo improvisada, fiz compressa com uma latinha de Antarctica, que me pareceu mais gelada que a Sol.
Ardia muito.
Em casa, fiz compressas com meigos chumacinhos de algodão em bebidos em água mineral gelada. Só tinha com gás.
Separei a roupa para a reunião de logo cedo e procurei pensar em assuntos agradáveis para desviar a atenção da dor.
Acordei sonolenta, me vesti e conferi o resultado no espelho.
Conclusão: melhor trocar de blusa. Quem não me conhece pode pensar que tenho um marido violento.
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