25 agosto, 2003

As batatas.
Desde que cheguei aquim eu tava paquerando o carrinho de batata e banana fritas que fica no ponto de ônibus. Eu já havia experimentado as famigeradas e aclamadas bananas chips que vendem no supermercado. Não achei muita graça nelas. São de uma higiene quase hospitalar. Punk e autênticas mesmo são aquelas que o velhinho vende no ponto de ônibus. É certo que se você for uma pessoa razoavelmente sensata vai notar que aquele óleo no qual elas são fritas é de uma procedência bastante duvidosa. Sem contar a poeira e uma série de outros fatores. Mas é exatamente isso que torna a aventura tão emocionante. Na sexta-feira, resolvi arriscar (note como eu sou ajuizada. Escolhi a noite de sexta-feira porque caso meu fígado entrasse em colapso, eu teria o final de semana todo pra me recuperar. Eu ando pensando em tudo).
Então, tomei coragem e pedi um copinho de batata frita. Já cheguei chutando o balde e pedi logo o de 1 reá. (tem copinho de R$ 0,70, mas esse não inclui o catchup e a maionese). Lotei as batatas com catchup até a tampa e me senti a mais valente das criaturas.
Foi exatamente nessa hora que o 118 chegou. Meleca. Copinhos de batata fritas cheios de catchup e ônibus lotado não nasceram um para o outro. Mas a sorte estava a meu favor. Tinha um lugar no último banco. (isso, no banco dos bobos). Comecei a devorar as batatas assassinas - acho que podemeos chamá-las assim. Percebi que aquela mistura saturada de sal e gordura reciclada era mesmo bombástica. Notei que o cobrador me observava. Havia um misto de desaprovação e piedade naquele olhar. Eu compreendo. Estava chegando a minha hora de descer e nada das batatinhas acabarem (pensando bem, eu devia ter comprado o copinho de R$ 0,70). Pra localizar o $ da passagem, tive que apoiar o copo imundo de batatas na mesinha do cobrador. Não teve outro jeito. Notei naquela hora um misto de desaprovação e ódio em seu olhar. Não posso culpá-lo por isso. Pedi desculpas e desci. Emfim, sobrevivi. Às batatas e à ira do borador.
Sexta-feira que vem, vou experiemntar o copinho de banana frita. O de R$ 0,70. E acho que vou voltar de táxi. É só aguardar.

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