25 abril, 2003

Revirando a estande de livros.

Sexta-feira [ 3 de dezembro de 1948]

Muito querido você. Estou contente por ter recebido esta carta de setembro, que nos incita a ir até o fundo do problema. Em certo sentido, não posso dizer que a última carta , a longa, me tenha cumulado de felicidade. É claro que eu sabia, desde a noite em que chorei tanto, que nossa história terminará dentro em breve, que de uma certa maneira alguma coisa já estava morta, mas assim mesmo foi um choque tomar consciência de que o fim poderia chegar tão rápido, a partir deste outono, que ele poderia chegar amanhã - não, isso não me cumulou de felicidade. Entretanto, você tem absoluta razão, tudo que você diz é justo. Posso muito bem entender a sua necessidade de ter uma mulher só sua, você a merece, uma mulher que não abandonasse seu próprio destino para tomá-lo como marido. Você seria um destino muito belo para uma mulher, eu mesma teria de bom grado esse destino se as circunstâncias não me proibissem. Sim, eu o compreendo, Nelson. Eu desejaria apenas que que a sua felicidade do ano passado não o entristecesse; ela tinha um significado. Durante um anos foi muito importante para mim conhecer um amor assim, fiel, verdadeiro, caloroso. Ele tocou profundamente meu coração, e eu lhe retribuí com uma felicidade tal, que, se você ainda me quiser bem, não deve lamentá-lo; não se lamente por ter me dado tanto, pois isso foi recebido com muito reconhecimento. A vida é fria e curta, sim, e é por isso que você estaria errado se desprezasse sentimentos como os nossos, quentes, intensos. Não fomos loucos por nos amar assim e por sacrificar o resto, nós nos tronamos felizes durante um tempo, verdadeiramente felizes, e isso é mais do que a maioria das pessoas obterão de suas vidas, eu jamais o esquecerei e você se lembrará disso às vezes, espero.
No momento, querido, toda minha expectativa se restringe a que compartilhemos ainda um longo momento: venha a Paris entre abril e setembro, por exemplo. E que continuemos amigos, mesmo que você um dia se case....
.... Adeus, Nelson. Como acreditar que neus braços lhe pareçam tão frios quando o meu coração arde? Entretanto, é verdade, eu sei? Braços distantes são frios. A esperança de que você os ache quentes ainda uma vez (e você sabe o quanto eles podem sê-lo) persiste em mim. Oh! Você me amaria neste momento, porque voltando a ser aquela do dia em você estragou tudo, a alma perdida, perdi a arrogância da felicidade. Mas eu o amo sempre muito!
Sua Simone.


De Simone de Beauvoir
in Cartas a Nelson Algren - Um Amor Transatlântico - 1947 - 1964


Dando seqüência a maratona literária, segura essa:

Separação.

......Você fica com a Folha e eu com o Estadão. Você fica com a Istoé, eu com a Veja. Você fica com a Net e eu com a TV. Você fica com a UOL e eu com a Terra. Você fica com o 486, e eu com o Pentium. Você fica com o amor e eu com a saudade. Posso levar o papel higiênico? E cortador de unha. Aquele bom.
São cinco da manhã e a gente ainda está ali, na sala, dividindo as nossas vidas. Ele deseja sorte, faz recomendações. Levou o Lexotan?

De Mario Prata
in Minhas Tudo.

Tem mais, agora deu soninho. Fica pra depois.


Nenhum comentário: