23 março, 2003

Sobre ser feliz.
O Leo, lá de Beorizont, mandou esse texto pra mim, justamente num dia em que eu estava bem tristin.
Valeu, Leo! Adorei!
Beijinho

35 anos para ser feliz
Martha Medeiros

Uma notinha instigante na Zero Hora de 30/09: foi realizado em Madri o
Primeiro Congresso Internacional da Felicidade, e a conclusão dos
congressistas foi que a felicidade só é alcançada depois dos 35 anos. Quem
participou desse encontro? Psicólogos, sociólogos, artistas de circo? Não
sei. Mas gostei do resultado.
A maioria das pessoas, quando são questionadas sobre o assunto, dizem: "Não
existe felicidade, existem apenas momentos felizes". É o que eu pensava
quando habitava a caverna dos 17 anos, para onde não voltaria nem puxada
pelos cabelos. Era angústia, solidão, impasses e incertezas pra tudo quanto
era lado, minimizados por um garden party de vez em quando, um campeonato de
tênis, um feriadão em Garopaba. Os tais momentos felizes.
Adolescente é buzinado dia e noite: tem que estudar para o vestibular,
aprender inglês, usar camisinha, dizer não às drogas, não beber quando
dirigir, dar satisfação aos pais, ler livros que não quer e administrar
dezenas de paixões fulminantes e rompimentos. Não tem grana para ter o
próprio canto, costuma deprimir-se de segunda a sexta e só se diverte aos
sábados, em locais onde sempre tem fila. É o apocalipse. Felicidade, onde
está você? Aqui, na casa dos 30 e sua vizinhança.
Está certo que surgem umas ruguinhas, umas mechas brancas e a barriga
salienta-se, mas é um preço justo para o que se ganha em troca. Pense bem:
depois dos 30, você paga do próprio bolso o que come e o que veste. Vira-se
no inglês, no francês, no italiano e no iídiche, e ai de quem rir do seu
sotaque. Não tenta mais o suicídio quando um amor não dá certo, enjoou do
cheiro da maconha, apaixonou-se por literatura, trocou sua mochila por uma
Samsonite e não precisa da autorização de ninguém para assistir ao canal da
Playboy. Talvez não tenha se tornado o bam-bam-bam que sonhou um dia, mas
reconhece o rosto que vê no espelho, sabe de quem se trata e simpatiza com o
cara.
Depois que cumprimos as missões impostas no berço - ter uma profissão, casar
e procriar - passamos a ser livres, a escrever nossa própria história, a
valorizar nossas qualidades e ter um certo carinho por nossos defeitos.
Somos os titulares de nossas decisões. A juventude faz bem para a pele, mas
nunca salvou ninguém de ser careta. A maturidade, sim, permite uma certa
loucura. Depois dos 35, conforme descobriram os participantes daquele
congresso curioso, estamos mais aptos a dizer que infelicidade não existe, o
que existe são momentos infelizes. Sai bem mais em conta.

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