Tenho almoçado com certa frequência num café
bacaninha, perto da agência. E lá, encontro, vez ou
outra, uma ex-colega distante dos tempos da faculdade.
Raramente nos falamos, eu e Conhecida.
Um tchauzinho de longe, quando muito.
Semana passada, algo hilariante aconteceu.
Encontrei Conhecida quando eu estava no buffet de sobremesas
e ela começava a se servir de sopa de cenoura. Ela me
perguntou no que eu trabalho atualmente.
Contei que chutei baldes na minha vida e hoje faço o que
eu faço.
Conhecida contou, com certo ar de enfado, o que faz (eu
entendi perfeitamente a razão do seu enfado) e a conversa
ficou por isso mesmo.
Voltei pra minha mesa, onde retomei uma conversa animada com
a D. , diretora de arte, dupla de criação.
Na hora de ir pra fila da conta, passei por Conhecida
novamente, que estava na fila da sobremesa.
Foi aí que Conhecida mandou a bomba do século:
- Aquela menina que sempre almoça com você é sua
filha?
- What? Qual menina? Oi? , pensei.
- Não, eu respondi numa espécie de murmúrio, quando
fomos interrompidas pela chegada triunfante de D.
E ficou aquela situação completamente besta.
Conhecida tentou consertar: - É que vcs duas têm um
jeito tããão parecido.
- É que a gente trabalha muito tempo juntas, tipo 10, 14
horas por dia, exagerei. Uma acaba pegando o jeito da outra.
É normal. Né? (e sorri o sorriso mais imbecil do
universo).
Conhecida tentando (ou não) consertar o inconsertável,
detonou o seu tiro de misericórdia:
- É que ela (no caso, a D.), olhando de longe, parece ser
beeem mais jovem do que é.
- Que bela segunda chance de ficar calada, você perdeu,
Conhecida, pensei eu.
No caminho de votla à agência, ideias começaram a
pipocar em
minha mente mortalmente ofendida e passei a dividi-las com
minha colega e dileta amiga.
Primeiro, blasfemei contra minha imperdoável ausência da
tal
presença de espírito.
No caso, de porco.
Na hora, eu poderia ter respondido, por exemplo:
- Sim, a D. é minha filha. Engravidei quando eu tinha 9
anos.
Virei estudo de caso, apareci na TV com tarja nos olhos, voz
distorcida e tudo. Foi divertido.
- Não. Somos gêmeas. Só que eu nasci um pouquinho
antes.
- Ora, que cabeça a minha, me perdoe, Conhecida. D. é
minha mãe. Ela é tipo Gloria Maria, sabe? Se alimenta de
ninho de passarinhos exóticos e toma 60 cápsulas de
vitaminas por dia pra ficar assim eternamente. Não é
incrível?
Ou a D. poderia ter respondido:
- Não é a mamãe, não é a mamãe!!!
- Você quer o cartão do meu dermatologista? Um
binóculo?
- De perto ninguém é normal, querida. E de longe
também não, ahuahuahua!!!!
Notem que as possibilidades da mais pura diversão eram
infinitas.
Que belas chances perdemos, não foi?