Nem tudo foi só desgraça.
Naquela correria doida de última hora, lembrei que as regras do envio de caixas como excesso de bagagem são diferentes das do envio pelo correio. O problema é que eu não lembrava dos detalhes. Aqueles que podem fazer a diferença entre você embarcar ou não.
Liguei pra Bel, a criatura iluminada pelo Divino, que sempre me socorreu nesses apuros. A santa não só me orientou, como também avisou que eu poderia fazer o check-in na loja Opção do aeroporto, sem precisar ficar na fila dos pobres mortais. O tipo de mordomia que eu estava merecendo. Pareceu que os caminhos estavam se abrindo.
Ao chegar no Edu Gomes, um carregador me ajudou com o carrinho e a mocinha da loja me apresentou a um senhor com nome engraçado.
Vamos chamá-lo de Padilha.
Pois o Padilha seguiu pelo portão da Gol para providenciar o despacho da bagagem, enquanto eu me acomodava confortavelmente no sofá para assistir aos momentos decisivos d´A Viagem.
Passaram-se mais de 20 minutos e nada do Padilha.
Segundo intervalo da novela e todo mundo na loja perguntando onde estaria o Padilha.
-Xi, sujou, pensei.
Comecei a pensar coisas estranhas. Tá certo que eu tinha uma certa culpa no cartório.
Estava tudo na conformidade da lei, veja bem. O som tava com nota fiscal e manual na valise vermelha. A camêra fotográfica é antigona e o Palm, de mil novecentos e tracajá. A única coisa que poderia pegar era que o DVD player tava sem nota fiscal, por isso eu o mimetizei entre algumas peças de roupa, no fundo do mochilão.
Fiquei imaginando o Padilha, um honrado pai de família, cercado por agentes federais e cães farejadores.
Alguns minutos depois, ele surge com ar cansado, dizendo que a mocinha do check-in queria alguns esclarecimentos a respeito da bagagem.
- Putz, sujou mesmo, pensei.
Meio trêmula, eu me aproximei do balcão. Para minha grata surpresa, a moça queria saber o que tinha na caixa.
- Barbitúricos, minha filha. Remédio controlado e tudo sem receita - deu vontade de dizer.
Francamente, isso é pergunta que se faça?
Contei que tinha uma bolsa linda de morrer, uma sandália que eu adoro, alguns bichinhos de pelúcia e umas miudezinhas de última hora.
Passou.
Enquanto ela me fincava a faca sem piedade, uma moça de voz atormentada gritava no alto-falante que a aeronave do vôo 646 já se encontrava em solo.
Ou seja, sem tempo nem pro café nem pro cigarro.
Deu apenas para comprar um pãozinho de queijo, quando a moça de voz atormentada começou a gritar de novo, convidando os passageiros do vôo 646, com destino a Cumbica, para o embarque imediato.
Engoli o pãozinho e o choro a seco.
Agora, sim. Tchau, Manaus.
Valeu. E desculpa alguma coisa.
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